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Indígenas da etnia Zoro coletam 120 toneladas de castanha-do-Brasil nesta safra

Além de ser uma atividade tradicional daquele povo na regulação do mercado e preços para a castanha-do-Brasil, os Zoro se destacam como um dos poucos povos indígenas que coletam a castanha enquanto ela está caindo, atividade considerada de alto risco por muitos coletores. Segundo Aduabá Zoro “o castanheiro precisa ter coragem e muita prática para coletar a castanha nos meses de novembro e dezembro, quando ela ainda está caindo, precisa ter habilidade e ser rápido na coleta enquanto estão debaixo das castanheiras, o ouriço pode cair a qualquer momento” o que motiva os indígenas a fazer uso de EPIs como capacetes e botinas.


O presidente da Cooperapiz comemora o resultado da safra de Natal que alcançou mais de 50 toneladas. Destas, 45 foram adquiridas pela cooperativa através da renovação do fundo rotativo, que foi disponibilizado pela ADERJUR, no valor de R$ 460.000,00, fazendo com que a castanha seja comprada a um preço mais justo do que o oferecido pelos atravessadores.


Além da ADERJUR, principal apoiadora, a APIZ e COOPERAPIZ contam com parcerias importantes como a Funai – Coordenação Regional de Ji-Paraná, considerada uma parceira histórica dos Zoró, disponibilizando anualmente insumos como sacaria e combustível para o transporte da safra de Natal, além de assessoramento técnico para o planejamento e mobilização para os trabalhos, como na busca de mercado e preços melhores para a produção.


Também apoia esta cadeia de valor no território Zoro, o Programa REM MT (REDD para Pioneiros, pela sigla em inglês), executado pelo Governo do Estado de Mato Grosso com financiamento dos Governos da Alemanha e Reino Unido. Desde 2020 a ADERJUR, de Juruena (MT) é apoiada pelo Programa e com esse recurso foi possível, no último ano, a construção de uma fábrica para beneficiamento de castanha no território Zoro, administrada pela Cooperapiz, cujos resultados socioambientais serão apresentados a partir da safra atual.


Outro parceiro importante é o Centro de Estudos Rioterra, de Porto Velho (RO), que apoia o financiamento da safra, com capital de giro para o fortalecimento do Fundo Rotativo. Estes parceiros estão investindo nesta cadeia, com volumes de recursos que são considerados uma iniciativa inédita para esta região da Amazônia. Os resultados desta experiência deixarão importante legado de conhecimento para o sistema tradicional de crédito público e privado, bem como, para fundos internacionais de investimentos que desejam apoiar a conservação da Amazônia e a manutenção do equilíbrio do clima do planeta.


Ainda segundo os presidentes da APIZ, Alexandre Xiwekalikit Zoro, e da COOPERAPIZ, Ademir Ninija Zoro, o apoio logístico para a coleta e escoamento da castanha continua sendo desafiante, por se tratar de regiões longínquas, com estradas de terra, nem sempre em boas condições, fazendo com que encareçam os custos com fretes. Ademais a retirada da produção de dentro da floresta é um trabalho árduo, por não haver um meio de transporte, sendo empregada a força humana para carregar a castanha até o local onde se acessa com motocicletas ou carros e transporta-la até a aldeia.


Segundo eles, um dos planos é buscar parcerias para humanizar mais este transporte, o que poderá ser feito com a viabilização de motos com carreta acoplada, barcos e motores para as regiões ribeirinhas, animais que auxiliem no transporte da carga de dentro da floresta, além de estruturas nas comunidades, como mesa de secagem, barracão de entreposto e pequenas estruturas nas residências dos próprios castanheiros, onde tradicionalmente armazenam suas castanhas até que sejam vendidas para a cooperativa. Enquanto isto, segundo o cacique geral, Panderewup Zoro, “cada castanheiro ou família cuida da sua castanha até a chegada da cooperativa para a compra”. É uma lógica que funciona, segundo ele. De acordo com Panderewuo, a implementação de pequenas estruturas locais, familiares, auxiliará nas boas práticas de manejo de produção, garantindo maior qualidade e melhor adesão do mercado.


A APIZ e a COOPERAPIZ já têm planejada a safra pós-Natal, que acontece entre janeiro e março, quando todas as castanhas já caíram. Eles estimam aproximadamente mais 60 toneladas para finalização da safra 2022/2023, que alcançarão um volume final superior a 120 toneladas. Após isto, enfrentam os desafios do mercado, que nem sempre é justo, bem como, dos custos com impostos que interferem na oferta dos preços para as vendas local regional e nacional. Ademir diz ter esperança de que os estados de Rondônia e Mato Grosso criem isenção de impostos.


Para Lígia Neiva, técnica da Funai que atua diretamente no assessoramento aos Zoro, na mobilização e planejamento da safra de castanha-do-Brasil, trata-se de uma prática tradicional do povo Zoro na gestão e proteção do seu território, além de ser um produto presente em cardápios refinadíssimos da culinária do povo Zoro.


Paulo Nunes, assessor da ADERJUR, reforça a importância e o impacto do fundo rotativo para a viabilização do preço justo aos castanheiros, promovendo maior adesão social e reforço às práticas tradicionais deste povo com a gestão sustentável da Floresta.


Por: Malu Calixto


Fonte: Florestanoticias.com

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