Encontrar pessoas dispostas a ir à guerra na Ucrânia tem sido um dos maiores desafios das forças armadas russas
Encontrar novos soldados dispostos a lutar na Ucrânia tem sido um dos maiores desafios das forças armadas da Rússia na guerra. Mercenários do Wagner Group, cidadãos despreparados, criminosos e até conscritos, jovens recrutados contra a própria vontade, já surgiram como opção. Uma nova alternativa são os combatentes estrangeiros, segundo informações do jornal independente The Moscow Times.
Na terça-feira (20), mesmo dia em que o presidente Vladimir Putin anunciou uma mobilização nacional parcial que adicionará 300 mil reservistas às forças russas, o prefeito de Moscou confirmou a criação na cidade de um centro de recrutamento para cidadãos estrangeiros dispostos a combater. Ele serão naturalizados e assinarão contrato profissional com as forças armadas.
O recrutamentos será feito em um centro de migração na periferia da cidade, onde atualmente são oferecidos serviços e documentos a estrangeiros, de acordo com o prefeito.
Soldados do exército russo em treinamento (Foto: eng.mil.ru)
Soldados que participaram do conflito confirmaram ter passado por um treinamento curto, com duração entre cinco e dez dias. Uma prática que contraria o Ministério da Defesa da Rússia, segundo o qual uma preparação de quatro semanas é necessária para considerar o soldado apto.
O ministério descreve a rotina de preparação e deixa claro o prazo: “Em quatro semanas, são realizadas aulas práticas (até 240 horas), aulas em simuladores (até 10 horas), treinamento físico (até 36 horas), treinamento tático (até 32 horas), treinamento especial (até 50 horas), exercícios de tiro AK-74 (9 vezes e 200 rodadas) e lançamento de granadas (7 vezes)”.
O analista militar independente Pavel Luzin avalia como inadequada a preparação reduzida. “Uma semana [de treinamento] não é nada. Para um soldado, é um caminho direto para um hospital ou um saco para cadáveres”, afirmou.
Samuel Cranny-Evans, analista militar do think tank Royal United Services Institute, em Londres, diz que não é apenas o treinamento de combate que faz falta: “Há muito a aprender em termos de coordenação e cooperação com uma equipe. E é bastante demorado”.
Conscritos e presidiários
A situação é ainda mais delicada no caso dos conscritos, soldados recrutados pelo governo e enviados ao campo de batalha mesmo contra a própria vontade. Nessas situações, o envio à guerra só é permitido pela legislação russa após quatro meses de serviço militar.
Desde o início do conflito, Moscou afirma que apenas soldados profissionais fazem parte do que o governo classifica como “operação militar especial“. Em março, porém, o Ministério da Defesa admitiu que alguns conscritos foram enviados por engano, mas já teriam sido levados de volta à Rússia. Inclusive, houve a promessa de punições aos oficiais que os enviaram à guerra.
Já a ONG de direitos humanos Gulagu.net, que monitora o sistema carcerário do país, diz que detentos também têm sido convocados para a guerra pela FSB (Agência de Segurança Federal, da sigla em inglês) e pelo Wagner Group, uma organização paramilitar que serve aos interesses do Kremlin e esta ativa na Ucrânia. Os centros de recrutamento seriam colônias penais das regiões de São Petesburgo, Tver, Ryazan, Smolensk, Rostov, Voronezh e Lipetsk.
De acordo com Vladimir Osechkin, chefe da ONG, o recrutamento nas prisões chegou a ser feito pessoalmente por Yevgeny Prigozhin, principal financiador do Wagner Group e importante aliado de Putin. Ele foi a algumas unidades prisionais oferecer o perdão presidencial em troca dos serviços no campo de batalhas na Ucrânia. Um preso que presenciou o recrutamento afirmou que condenados por homicídio premeditado e roubo são especialmente bem-vindos, nas palavras do recrutador.
Fonte A Referencia
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