Fenômeno chamado de 'terras caídas', causado pela erosão do solo, é comum na região. Duas pessoas morreram e três seguem desaparecidas após queda de barranco no fim de semana.
O que especialistas apontam, porém, é que a dimensão da tragédia em Beruri pode ter relação com a estiagem severa, que ameaça bater recorde histórico e se estender até o mês de janeiro. A situação de diversos rios estratégicos é crítica, com vazões (volumes) abaixo da média histórica.
O geógrafo José Alberto Lima de Carvalho, pesquisador da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e especialista no fenômeno de "terras caídas", explica que essa região "tem muita cheia e, quando isso acontece, a água fica retida no terreno. Ao baixar o nível do rio, esse solo desaba".
É uma situação que acontece frequentemente nos nossos períodos de estiagem e que castiga a região, causando desmoronamentos de áreas quilométricas.
Como a seca severa pode ter contribuído?
O professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP) Fernando Marinho explica que a seca extrema faz com que a vazão do rio aconteça de forma mais rápida, deixando seu nível muito baixo e, consequentemente, o solo encharcado sob mais pressão.
A água do lençol freático que ainda está no solo não acompanha a vazão do rio na mesma intensidade. Com isso, o solo fica ainda mais instável.
O rio Purus, que banha o município de Beruri, onde ocorreu a tragédia, é um dos que constam do levantamento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), ligado ao governo federal, sobre os rios em situação crítica, com vazão abaixo da média.
O professor da Ufam ressalta que, quanto maior a seca do rio, que é periódica, e mais alto for o barranco, maior a força da gravidade exercida. "Em geral, há sinais de que isso vai acontecer e as pessoas conseguem sair, o rio espuma e racha na margem", explica.
⚠️ Embora ainda não seja possível fazer uma análise da sucessão de fatores, o pesquisador da USP pondera que as secas influenciam na criação de rachaduras no solo, que podem intensificar os deslizamentos.
“A seca pode gerar trincas no solo, que está pressionado por estar encharcado. Essas trincas podem contribuir para um primeiro desbarrancamento e, como está tudo muito instável, qualquer coisa pode causar um deslizamento, que acaba sendo mais intenso”, explica Marinho.
Causas da seca
🔥🌊 A seca prolongada e fora do normal nos rios da Amazônia, que tem castigado milhares de moradores na região, está relacionada, segundo especialistas, à combinação de dois fatores que inibem a formação de nuvens e chuvas: o El Niño (que é o aquecimento do oceano Pacífico) e a distribuição de calor do oceano Atlântico Norte.
Apesar de os reflexos dos dois fenômenos ocorrerem em regiões diferentes da Amazônia, o aquecimento das águas do oceano desencadeia um mecanismo de ação similar sobre a floresta: a redução de chuvas na região, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Com isso, o início do período de chuvas, que deveria ser em novembro, vai atrasar.
A estiagem é mais grave na chamada Amazônia Ocidental, composta por Acre, Rondônia, Roraima e Amazonas.
Os bancos de areia, que a cada dia que passa ficam mais visíveis e extensos, devem aumentar de tamanho com a persistência da seca. Além da navegação, os desdobramentos podem ser sentidos na pesca, na agricultura e no equilíbrio ambiental.
No mapa abaixo, a área marrom indica previsão de chuva no Norte abaixo da média nos próximos três meses.
Por Poliana Casemiro, g1
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