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Sistema de tempestades, barragens rompidas e 5 mil mortos: entenda a tragédia na Líbia

 País foi atingido pela tempestade Daniel, que deixou um rastro de destruição principalmente na cidade de Derna. Disputa pelo poder, que já dura uma década, complica situação da Líbia.

Enchentes provocadas por uma tempestade deixaram mais de 5 mil pessoas mortas e 10 mil desaparecidas na Líbia. No domingo (10), a forte chuva provocou o rompimento de barragens, resultando em uma onda de lama e destruição na cidade de Derna, na costa leste do país.

▶️ Contexto: A Líbia fica no norte da África, sendo banhada pelo Mar Mediterrâneo. Desde 2011, com a queda de Muammar Kadhafi e o encerramento de um período de 42 anos de ditadura, o país vive mergulhado em uma crise política e disputa por poder.

A administração reconhecida pela ONU está baseada em Trípoli. No entanto, essa gestão não tem controle sobre o leste do país, que foi mais afetado pela tempestade.


'Medicane'

No domingo, o país foi atingido pela tempestade Daniel. Por suas características, o fenômeno é conhecido como "medicane", um furacão do Mediterrâneo.

O 'medicane' também é conhecido como um 'sistema de tempestades' que começou na Grécia, deixando pelo menos 15 mortos. Também passou por Turquia e Bulgária e chegou ao seu pico na Líbia, com ventos fortes de 70 a 80 km/h.

Entre as cidades mais atingidas está Derna, onde bairros inteiros desapareceram por causa do rompimento de barragens. A área tem mais de 100 mil habitantes.

A tragédia expôs a fragilidade de infraestrutura e a crise que divide o país.

Com grupos diferentes controlando governos paralelos, há conflitos entre informações oficiais e sobrecarga nos serviços públicos.


Cidade destruída

Derna, no leste da Líbia, está entre as cidades mais atingidas pela tempestade. Além do grande acumulado de chuva, a região também enfrentou o rompimento de duas barragens.

Derna é cortada por um rio que desemboca no mar. Por este motivo, a região conta com barragens que foram construídas para proteger o núcleo urbano.

Durante a tempestade, moradores relataram que ouviram explosões, provocadas pelos rompimentos das barragens.

Os rompimentos aconteceram por volta da meia-noite, quando muitos moradores já estavam dormindo.

Segundo as autoridades, a força da água arrastou imóveis e centenas de pessoas em direção ao mar.

Cerca de 25% da cidade desapareceu, de acordo com o ministro da Aviação Civil, Hichem Abu Chkiouat.

A parede de água "apagou tudo em seu caminho", disse o morador Ahmed Abdalla.

Até a última atualização, 5,3 mil mortes haviam sido confirmadas.


Após o rompimento

Derna enfrentou um cenário de guerra após o rompimento das barragens do rio Wadi Derna. Edifícios inteiros desmoronaram, e carros amanheceram empilhados.

Na segunda-feira (11), a cidade amanheceu inundada. Imagens divulgadas pela televisão local mostraram a água barrenta entre edifícios e casas de Derna.

Com a água baixando aos poucos, as ruas da cidade ficaram cobertas de lama e destroços.

Os corpos das vítimas também começaram a aparecer em diversos locais, como nas ruas, em vales e em cima de prédios.

Hospitais ficaram lotados. Além dos mortos e dos feridos, famílias procuraram por socorro para tentar localizar parentes que tinham desaparecido.

"Nunca me senti tão assustado como agora... Perdi contato com toda a minha família, amigos e vizinhos", disse Karim al-Obaidi que viajou de Trípoli para o leste do país em busca de informações.

A estimativa é de que 10 mil pessoas estejam desaparecidas.


Tempestade Daniel

O fenômeno se formou na primeira semana de setembro, na região do Mediterrâneo. Ele é conhecido como "medicane" porque faz a união das palavras "Mediterrâneo e "furacão" em inglês (hurricane).

A tempestade começou causando estragos e deixando estragos na Grécia, no dia 4 de setembro.

Depois disso, "Daniel" se deslocou em direção à África, passando pelo norte do continente.

Dados oficiais sobre os acumulados de chuva ainda não foram compilados. No entanto, segundo o especialista em clima Christos Zerefos, secretário-geral da Academia de Atenas, o total na Líbia pode chegar a 1.000 mm em dois dias.

Benghazi, a segunda maior cidade da Líbia, e outras regiões também foram atingidas pela tempestade.


Conflito na Líbia

Em 2011, a Líbia foi dividida entre governos rivais após a queda de Muammar Kadhafi. A administração reconhecida pela ONU está baseada em Trípoli. No entanto, essa gestão não tem controle sobre o leste do país, que foi mais afetado pela tempestade.

Atualmente, a Líbia tem dois primeiros-ministros: Abdul Hamid Dbeibah fica em Trípoli e comanda a faixa oeste; já Ossama Hamad governa o lado leste da cidade de Benghazi.

Ambos os governos possuem apoios de países diferentes. Enquanto Trípoli tem o apoio da Turquia, Catar e Itália, o governo de Benghazi é respaldado por Egito, Rússia e Emirados Árabes.

Mesmo diante da pressão internacional, o país enfrenta dificuldades em ser unificado. Em 2021, uma eleição chegou a ser marcada, mas acabou adiada.

Diante da disputa, conflitos violentos entre grupos rivais já mataram dezenas de pessoas. Em agosto, por exemplo, um confronto entre grupos armados deixou 45 mortos em Trípoli.

A Líbia também possui grandes reservas de petróleo. No entanto, a riqueza reflete muito pouco no dia a dia da população.

A divisão do país e a tempestade provocou o colapso de serviços públicos.















Por Wesley Bischoff, g1 — São Paulo

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